16 de mai. de 2009

margens pérfidas

somos todos seres reais e imaginários
atávicos e utópicos sincréticos e semiológicos
vivemos do que fomos e para o que seremos;
em todo ser há uma margem a fecundar as veias poéticas
mesmo nas pátrias prostituídas por impávidos colapsos
ou gigantes relapsos pela vil avareza

a gravidez do poeta na pátria que se traiu é augustiante
na introspecção o bardo engole o mundo
e rumina este e outros campos, à margem da margem
eis que lírico, épico e onírico se entrelaçam
numa inocência que desafia a esperança
numa cólera que desanima e espanta o medo

do cordel umbilical emerge um caleidoscópio
um exército de robôs rambos rumbas & rimbauds
numa ópera bufa que beija o dramático
o sentido de realidade do mundo floresce
na calidez da paixão e fenece
no inferno das boas intenções

o cotidiano dá o mote
cordelizado e panfletário;
o verso-bala zune de forma contundente
irrompendo a placenta do niilismo
um brado óbvio e ululante se materializa no ar
numa sumária condenação: o rei é pérfido!
e o governo, um zero à esquerda;
eis que da indignação cáustica e guerrilheira
brota o reino da iracúndia

José Edward (IN "Pátria Que Pariu!")
Foto: Manoel Marques

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